O Ato de Escrever

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Numa entrevista à imprensa, por parte do filósofo argentino José Pablo Feinmann, que me foi recomendado pelo amigo jornalista, cineasta e escritor conterrâneo Marlon Aseff, dizia ele que detesta ‘blogs’ (“Cualquier pelotudo tiene um blog!”) e falava daqueles que, na impossibilidade de terem seus escritos publicados, criam blogs e neles escrevem , ou mesmo no Facebook, na esperança de que alguém os leia, mas não caem em si de que seus textos possam ser demasiado chatos, enfadonhos ou difíceis de entender.
É verdade que existem bons e maus escritores. Mas também sabemos das formalidades seletivas de que se revestem as vias de acesso de certos meios de comunicação (jornais, revistas, etc.) que se julgam importantes demais e, como tais, exigem de um desconhecido apadrinhamentos para publicar uma matéria, mesmo que a reconheçam como boa, bem escrita e fundamentada. Isto aconteceu no início de suas carreiras com muitos escritores segundo seus próprios depoimentos.
Sobre o ato de escrever, Artur da Távola (1936-2008), um dos maiores escritores brasileiros do nosso tempo, em seu artigo “Reflexão sobre o ato de escrever”, publicado na edição anual de 1999 da Revista de Brasília, declarou o seguinte:
“Escrever é permanecer horas, dias e anos na esperança do encontro, hoje, amanhã ou depois de morto, com algumas pessoas ou muitas almas irmãs com quem sintonizar, o que impossível foi com a maioria das pessoas, até mesmo com quem se conviveu.”
Quanto a escrever bem ou mal é outra coisa. Existem escritores para todos os gostos, de todos os tipos, qualidades e categorias.
Mário Quintana em seu Caderno H, sob o título de ‘Hermetismos’, diz o seguinte sobre certo tipo de autores e seus respectivos leitores:
“Leitor ideal mesmo é o que, quanto menos entende, mais admira. Se não fora essa claque providencial, o que seria dos autores herméticos? Eles e seus leitores foram feitos um para o outro.”
O ato de escrever é para qualquer pessoa um dos melhores exercícios de raciocínio e reflexão, que lhe permite vasculhar os arquivos da memória, prospectar as jazidas do inconsciente e também de aprender consigo mesmo.
Mas aqueles que se propõem a escrever devem estar apetrechados de alguns conhecimentos básicos pelo estudo da gramática, de preferência identificando e aplicando esses conhecimentos, caso a caso, em cima do texto a ser escrito e trabalhado.
Além disso, temos o exercício da leitura em suas variadas formas, e o aprendizado que ela por si só nos proporciona.
Mas antes de alguém se aventurar a escrever é preciso ter aprendido a ler.
A escrever bem não se aprende em academias ou em oficinas literárias. Escrever, depois de ter aprendido a ler, é como aprender sozinho a nadar ou a andar de bicicleta. É um trabalho perseverante, solitário e independente, onde cada um forja o seu próprio estilo.

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