Rede de atenção ao idoso em Curitiba é exemplo de inovação

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Nesta terça-feira (1º/10), Dia Mundial do Idoso, a rede de atenção montada pela Prefeitura de Curitiba para esta faixa da população mostra que é um exemplo de inovação em saúde. O segredo está em uma linha de cuidados que não leva em conta apenas o diagnóstico e o tratamento adequado, mas a manutenção da autonomia do paciente.

“O nosso desafio vai além do tratamento de uma doença: é preciso olhar com atenção para as funcionalidades dos idosos e, ao mesmo tempo, integrar as ações entre os diferentes equipamentos da nossa rede de atenção”, diz a secretária municipal da Saúde, Márcia Huçulak.

Atenção primária

De janeiro a agosto, só nas 111 unidades de saúde da Prefeitura, foram realizadas mais de 357 mil consultas médicas à população com mais de 60 anos, média de quase 45 mil por mês.

É lá que o processo começa. Além de buscar informação sobre o estado de saúde do idoso, a equipe avalia seu Índice de Vulnerabilidade Clínico-Funcional (IVCF-20). Os dados revelam se ele está em condição boa ou frágil para lidar com a rotina do dia a dia, como andar na rua, tomar banho sozinho ou contar dinheiro.

Só na faixa de idosos com mais de 80 anos, por exemplo, 5 mil moradores de Curitiba foram avaliados entre janeiro e junho de 2019.

Os idosos foram divididos em três grupos, conforme a condição de cada um: robustos (32,36%), em melhor estado de saúde; pré-frágeis (34,25%), com algum risco, como falta de equilíbrio ou dificuldade de raciocínio; e vulneráveis à fragilidade (33,39%), que precisam ser internados.

Todas as unidades de saúde prestam assistência ao idoso de acordo com suas necessidades clínicas. A estratégia conta com o suporte dos profissionais do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF).

“Se um idoso tem problema de equilíbrio, por exemplo, o fisioterapeuta vai trabalhar com ele”, ilustra o diretor de atenção primária à saúde da secretaria, Juliano Gevaerd. A avaliação de risco para fragilidade vai se estender ao longo de 2019 e 2020 para a SMS ter a maior representatividade possível da condição do idoso de Curitiba.

Ambulatório

Entre março e setembro deste ano, 1.202 pacientes com 80 anos ou mais foram encaminhados para especialidades. Outros 221 tiveram agendamentos para ambulatórios de Avaliação Multidimensional do Idoso, tanto no Hospital Municipal do Idoso quanto no Hospital de Clínicas, parceiro da SMS.

A pensionista Edite Guedes, 80 anos, é um exemplo do atendimento. Ela tomava 29 comprimidos de 19 medicações diferentes, segundo seu IVCF-20, um quadro de polifarmácia.

Da unidade de saúde Tapajós, no Xaxim, onde passou pela primeira avaliação, ela foi encaminhada para a equipe multiprofissional do ambulatório do Hospital Municipal do Idoso, no Pinheirinho. Lá, depois de novamente avaliada, começou um tratamento. Resultado: sete comprimidos e três medicações a menos.

No caso de Dona Edite, a expectativa é reduzir o número de remédios e a dosagem aos poucos. “A suspensão abrupta poderia causar confusão, insônia, agitação e maior incidência de quedas. Nestes casos, a melhor estratégia pode ser uma redução gradual da dose com reavaliação médica frequente”, explica o geriatra Humberto Campos.

O médico integra a equipe que acompanha a paciente no ambulatório, junto com uma enfermeira e uma fisioterapeuta. “Ela está bem. O atendimento é ótimo, diferenciado”, elogia a técnica de monitoração Solange Guedes, filha de Dona Edite. 

“É imprescindível uma avaliação geriátrica abrangente e detalhada para definir a melhor opção de tratamento para cada paciente. Individualizar é fundamental”, observa Campos.

“A partir daí é feito um plano de cuidado multiprofissional”, acrescenta Juliano Gevaerd. Segundo ele, o objetivo do atendimento é fazer com que os idosos consigam recuperar alguma autonomia para encarar a rotina do dia a dia. “Ter dados precisos sobre a condição clínica nos dá um diferencial para cuidar dos nossos idosos”, diz.

Eventuais dúvidas sobre a condição clínica do idoso também podem ser resolvidas com a apoio da teleconsultoria, um serviço de troca de informações entre os profissionais da saúde a partir do prontuário eletrônico.

Hospital

Conforme a orientação da lei da prioridade para pessoas acima de 80 anos, a Secretaria Municipal da Saúde facilita aos curitibanos desta faixa etária que necessitam de atendimento de emergência na rede pública o encaminhamento preferencial para o Hospital Municipal do Idoso.

Referência no Sistema Único de Saúde (SUS), com índice de aprovação de 98%, o hospital quebrou seu próprio recorde de atendimentos em agosto deste ano. Foram 530 internações, 20 a mais do que em abril, quando abrigou 510 pacientes.

Há outro recorde: em julho, a unidade recebeu 268 pacientes – 42 a mais do que em junho – encaminhados pela Central de Leitos, ou seja, que estavam em Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) à espera de vagas em hospitais.

O balanço do hospital em julho também revela que 229 pacientes, ou 44% do total, tinham 80 anos ou mais. “É quem geralmente está em uma condição mais frágil nos meses de inverno”, diz o diretor executivo do hospital, Altair Rossato.

SAD

Os pacientes recebem assistência mesmo depois que recebem alta. O Serviço de Atenção Domiciliar (SAD) permite que os idosos possam fazer em casa, com acompanhamento de profissionais, o tratamento que os manteria internados, em média, de cinco a seis dias em hospitais ou UPAs.

“Esse serviço tem muitas vantagens: reduz o risco de infecções hospitalares, permite que a pessoa tenha o tratamento próximo de seus familiares e em um ambiente mais acolhedor, disponibiliza o leito para outro paciente em situação de maior complexidade”, enumera o coordenador médico do SAD, Clóvis Cechinel.

Mais de 2,9 mil pacientes foram atendidos só no primeiro semestre deste ano pelo SAD. O serviço conta com 98 profissionais que têm como base o Hospital Municipal do Idoso e que percorrem, todo mês, uma média de 25 mil km para prestar atendimento a pacientes. Hoje, o serviço tem capacidade para atender a 600 pacientes por mês.

O serviço também é estratégico. De janeiro a junho deste ano, o atendimento via SAD desocupou 764 leitos em Unidades de Pronto Atendimento e hospitais da rede credenciada. Para ter acesso ao SAD, a família do paciente procura a unidade de saúde mais próxima, onde uma avaliação determina se ele atende aos critérios de inclusão no programa. Pacientes atendidos em UPAs e hospitais da rede credenciada também podem ser indicados pelos médicos ao serviço.

“A organização do nosso sistema demonstra que a Prefeitura de Curitiba cuida dos idosos de uma ponta à outra”, define Márcia Huçulak.

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