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Alguém lembra ou sabe quem foi o santanense Antônio Gonçalves Sobral, nascido em 21 de junho de 1919? Tenho as minhas dúvidas, como também o próprio Antônio as tinha. Por sinal, já no fim de seus dias – faleceu no Rio de Janeiro em 18 de abril de 1998 – chegou a dizer: “Este país não tem memória. Alguém sabe quando morreu Chico Alves? É por isso que quero ser cremado: pra ninguém fazer xixi na minha campa”.

Pois é. Este santanense, filho de portugueses que o levaram para São Paulo quando ainda tinha seis meses de vida, permanece como um ícone para a história da música popular brasileira. Apesar disto, a sua terra natal, Santana do Livramento/RS, não é capaz de mexer uma palha para homenageá-lo ou mesmo aproveitar a fama de seu filho ilustre para divulgar o Município, assim como pouco se comenta a origem santanense do poema épico Martin Fierro.
Para quem ainda não percebeu, estou me referindo ao fenômeno que adotou o nome artístico de Nélson Gonçalves, cuja voz alcançava a três oitavas na escala musical. Ao longo de 60 anos de profissão ele vendeu mais de 78 milhões de discos, gravou 127 LPs, 27 CDs, 200 compactos duplos, 200 compactos simples, 200 fitas cassete, e 103 discos 78 rotações, os bolachões de antigamente. A vendagem de discos de nosso conterrâneo foi tão fantástica que apenas o “rei” Roberto Carlos o superou.

Enquanto isto, Cachoeiro do Itapemirim, no Espírito Santo, mantém no centro da cidade a Casa de Cultura de Roberto Carlos com fotos, discos, instrumentos musicais e outras referências recordatórias do seu filho. A carreira discográfica de nosso conterrâneo foi tão significativa que ele tinha orgulho em dizer que no ano de 1974 apenas ele e Elvis Presley receberam o prêmio Nipper, representado por uma estatueta do cachorrinho beagle junto a um gramofone e instituído pela RCA pela vendagem de discos em todo o mundo.

Além de ter criado com o seu vozeirão o estilo do samba sincopado, Nélson Gonçalves não tinha a menor dificuldade para cantar outros ritmos musicais, inclusive o rock e até reggae, vangloriando-se ainda de que ia para o estúdio da gravadora e numa manhã terminava um CD, porque não era preciso repetir a gravação da faixa. A sua voz era perfeita.

Um crítico internacional de música chegou a dizer que, se Nélson Gonçalves cantasse em inglês, seria mais famoso que Frank Sinatra. A coisa não fica por aí. Já tivemos em nossas emissoras de rádio programas exclusivos em homenagem a Roberto Carlos, assim como as rádios de ambos os lados do Rio da Prata recordam continuamente a Carlos Gardel, que nem se sabe com certeza se realmente era uruguaio de Tacuarembó ou francês de Toulouse, mas não lembro se alguém criou algum programa em sua terra natal para salientar a arte de Nelson Gonçalves.

Tudo isto é uma pena, não valorizamos o que temos de bom.

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