Gordos e prostitutas.

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Perdoem-me aqueles que não gostarem da comparação, mas não se deve desconhecer a discriminação que houve ao longo dos tempos sobre os gordos e as prostitutas. Estes dois seres humanos em todos os tempos foram olhados com reserva e certo desdém.

O gordo sempre foi motivo de empecilho, pois os seus contornos, na maioria das vezes, estavam atravancando o caminho de alguém ou ocupando algum espaço que os demais entendiam que não lhe pertencia. Quem já andava de avião há mais de 50 anos, deve lembrar que na hora do check-in para o embarque o gordo era pesado na frente dos demais passageiros, como se fosse mais um fardo e se ultrapassasse tantos quilos, pagava excesso de peso.

Há pouco tempo fiz um voo doméstico e o cinto de segurança da minha poltrona era para talhe 42. A comissária viu que o cinto não fechava na minha cintura, me trouxe uma extensão e me disse: sem fechar o cinto você não pode viajar. Logo percebi que ela chamaria o comandante e me poria para fora do avião se eu não desse um jeito de afivelar aquele cinto.

Não é só isso. As campanhas contra a obesidade estão se utilizando de subterfúgios ditos científicos e partindo para a criminalização dos gordos, quem sabe até pedirão a pena de trabalhos forçados para ver se o réu emagrece, pois se tornou socialmente um estorvo.

O que se dizer, então, da prostituta. Em todas as cidades a meretriz não podia viver no âmbito da cidade. Precisava ir morar nos contornos e arrabaldes e de preferência em ruas de difícil acesso, para que não contaminassem as famílias constituídas do povoado.

Além disso, ainda precisavam ser fichadas na polícia e ali se apresentar periodicamente como se fossem criminosas em liberdade condicional ou infectadas pela lepra. Por tais circunstâncias, dificilmente os filhos e filhas delas tinham acesso às escolas públicas, porque também levavam a marca indelével da aversão social.

Com o passar dos tempos e incentivadas pelos conteúdos das novelas da TV as prostitutas foram ganhando novo “status”. Passaram a ser mais bem entendidas, constituíram associações de classe e deixaram de ter gigolôs que foram substituídos por seus empresários, que se encarregam de programar as suas aparições nos lugares de exposição visual e mídia.

No atual meretrício já não há aquela pobreza nauseante e nem analfabetismo genético, há mulheres poderosas e graduadas nas universidades.

Já no outro quadrante o gordo continua gordo e não se nota qualquer evolução que torne a sua vida mais receptível; ou ele emagrece ou será capaz de até causar desconforto a seus amigos que terão de forcejar até na hora de conduzi-lo à última morada.

Apesar destes percalços, o gordo é feliz porque come e bebe o que gosta.

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