Gaúchos de cá e de lá

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Já é corriqueiro o comportamento do viajante que chega pela primeira vez em Santana do Livramento, denominada de “Fronteira da Paz” e fica fascinado pela peculiar linha imaginária serpenteada que serve para indicar onde começam os torrões do Brasil e do Uruguai. É tão típica esta situação que muitos turistas querem levar uma foto sua, tendo um pé em cada território das nações limítrofes.

Estas características territoriais não acontecem apenas entre os municípios de Santana do Livramento e Rivera. A mesma situação de terra contínua se multiplica desde os Campos Neutrais, lá na foz do arroio Chuí até encontrar a desembocadura do rio Quaraí, depois de percorrer mais de mil quilômetros.

Nunca foi estranho se dizer, há mais de 200 anos passados, que os territórios da Província de São Pedro do Rio Grande e da Banda Oriental compunham apenas uma unidade dividida por interesses das coroas de Portugal e da Espanha. Os nativos da região, guaranis, tapes e outros grupos não estavam preocupados com estas divisões políticas.

Bastava nascer nestas terras para ser um cidadão deste Continente. Foi com este espírito que muitos gaúchos que nasceram abaixo do rio Pelotas, que corre pelos Campos de Cima da Serra, até encontrar as praias do rio da Prata palmearam estas terras entreverando-se para enfrentar adversários comuns ou para participar de alguma algazarra festeira.

Entre tantos homens e mulheres com estes traços, vale mencionar Gaspar Silveira Martins (1835-1901), de nomeada participação política como presidente da província do Rio Grande e membro do gabinete do Império. Nascido no departamento de Cerro Largo e falecido em Montevidéu, quando se encontrava exilado.

Pinço outras duas figuras emblemáticas da região que representam a esta gente. O primeiro foi Pedro José Vieira que nas margens do Rio da Prata foi apelidado de “Perico el Bailarin”. O outro foi Gumercindo Saraiva, ou Saravia.

O historiador Walter Spalding conta que “Pedro José Vieira era natural de Viamão(RS), onde nasceu no último quartel do século XVIII. Mocinho ainda, saíra de casa perambulando, ora como peão, ora como ajudante de tropeiro, ora como capataz de estância, entre Arroio Grande, Piratini, Jaguarão, radicando-se afinal, após a conquista das Missões (l801), no Uruguai que percorreu em todos os sentidos, até a Argentina”.

Entre as aventuras de Perico el Bailarin ficou registrada a sua participação no episódio que passou à História uruguaia sob o nome de “Grito de Ascêncio”. Em fevereiro de 1811, às margens do arroio Ascêncio (departamento de Soriano), Vieira juntamente com o cabo de milícias Venâncio Benavides e acompanhados por uma centena de homens da região, levantaram-se em armas contra os espanhóis, pleiteando a independência do território uruguaio.

O mesmo historiador ainda informa que Pedro José Vieira também participou da Revolução Farroupilha, tendo se alistado junto às tropas comandadas pelo general Domingos Crescêncio de Carvalho e do coronel Felix Vieira, provavelmente seu irmão, sendo que este também emprestou o seu braço guerreiro em território uruguaio.

Gumercindo Saraiva e o seu irmão mais moço Aparício marcaram a história deste Continente profundamente ao final do século 19. Gumercindo, nascido em 1852 em território do Rio Grande era filho do casal brasileiro Francisco Saraiva e Pulpícia da Rosa, que foram morar no departamento de Cerro Largo(UI) após o nascimento de seu segundo filho Basilício, em 1853. Já no Uruguai o casal teve mais onze filhos, entre eles Aparício cuja trajetória política e guerreira está ligada às revoluções uruguaias de 1897 e de 1904.

Sendo Gumercindo partidário dos blancos no Uruguai, assim como Aparício, o mesmo sofreu perseguição política em 1883 e veio morar em Santa Vitória do Palmar com a sua mulher e filhos, aí fazendo considerável fortuna como estancieiro. Simpatizante do presidente da província Silveira Martins, foi nomeado delegado de polícia daquele município até a deposição do presidente quando da proclamação da República, em 1889.

A luta de Gumercindo Saraiva, que teve a companhia de seu irmão Aparício na Revolução de 1893 foi marcante até a sua morte e sepultamento em 1894, nos campos de Santiago do Boqueirão(RS).

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