A censura existe desde a criação

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Parece que tudo ficou o dito pelo não dito. No dia nove de janeiro de 2011, o escritor Paulo Coelho divulgou pela internet que havia recebido a informação de seu editor no Irã que as suas obras teriam sido proibidas lá, sem que houvesse a informação do motivo. O autor alegou que as suas obras eram publicadas naquele país desde 1988 e já teriam sido vendidos mais de seis milhões de exemplares. O primeiro passo que o autor de O Alquimista deu, foi tentar impulsionar a diplomacia brasileira, a fim de que saísse em sua defesa. Já no dia 13 de janeiro, quatro dias depois, a embaixada do Irã no Brasil emitiu nota informando que não havia censura e tudo continuava como dantes no quartel de Abrantes para a tranquilidade de todos os envolvidos.

Notícias de ação de censura nunca causaram alguma surpresa ao longo da existência da Humanidade em qualquer quadrante do mundo. O escritor português José Saramago, prêmio Nobel de 1998, deixou transparecer em seu último romance Caim que a censura já iniciou com o aparecimento de Adão e de Eva no jardim do Éden. Quando o Criador disse aos dois: “De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás”. (Gn 2.17) Assim ficou institucionalizada a censura prévia. Já naqueles primórdios o conhecimento não poderia estar ao dispor de quem dele precisasse. Desde aí a informação deveria ser peneirada e reservada a determinadas pessoas ou grupos.

Saramago faz, sobre o caso, as seguintes observações pontuais e muito lógicas. “Em primeiro lugar, mesmo a inteligência mais rudimentar não teria qualquer dificuldade em compreender que estar informado sempre será preferível a desconhecer, mormente em matérias tão delicadas como são estas do bem e do mal, nas quais qualquer um se arrisca, sem dar por isso, a uma condenação eterna num inferno que então ainda estava por inventar. Em segundo lugar, brada aos céus a imprevidência do senhor (sic), que se realmente não queria que lhe comessem de tal fruto, remédio fácil teria, bastaria não ter plantado a árvore, ou ir pô-la noutro sítio, ou rodeá-la por uma cerca de arame farpado”.

Não se deve esquecer que a Igreja Romana, seguindo o Criador, atuou com todo o rigor na imposição da censura através do Index Librorum Prohibithorum” (Índice dos Livros Proibidos) que foi criado em 1559 no Concilio de Trento e extinto pelo Papa Paulo 6º em 1966.

Estiveram no Índex ao longo de 400 anos autores como Voltaire, Vitor Hugo, Emile Zola, Stendhal, Anatole France, Jean Paul Sartre e tantos outros. Assim, não seria estranho se Paulo Coelho também fosse agraciado com um ato de censura em algum canto do mundo.

*Renato Levy é advogado em Santana do Livramento/RS

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