O ato de alfabetizar

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Há dias, lia sobre os acontecimentos bélicos e políticos que antecederam a independência da Colômbia, Venezuela, Equador, Panamá, Bolívia e Peru e que tiveram a decisiva participação do venezuelano Simón Bolívar (1783-1830), reconhecido pelos seus pares como El Libertador. Aquela região do noroeste da América do Sul se denominava Vice-Reino de Nova Granada. O desejo de independência surgiu ao final do século 18, porém os enfrentamentos sangrentos começaram em 1810 e perduraram até 1823, alternando-se as vitórias entre os espanhóis e os nascidos na América.

Um fato que me chamou a atenção aconteceu em uma das retomadas do controle territorial e do governo pelos espanhóis que determinaram que todos os nascidos na América que fossem alfabetizados deveriam ser mortos, a fim de que não servissem de instrumentos multiplicadores das idéias revolucionárias e libertárias contra a Coroa Espanhola.

A leitura deste texto me transportou instantaneamente para a minha infância e a memória me trouxe ao presente a lembrança da Professora Elcy Simões de Mello que me alfabetizou. Ao mesmo tempo passei a cotejar as razões que tinham os espanhóis para exterminar os alfabetizados e o ato de descobrir o mundo que havia me propiciado a Professora que me abrira os olhos e a mente para a infinitude que eu iniciaria a desvendar e o compreender.

Lembro também que ao palmilhar a Universidade nos idos da década de 60 tive a felicidade de conviver com a nata da inteligência e da intelectualidade gaúcha da época, que dedicavam algumas de suas horas para ensinar nos cursos de graduação e especializações. Realmente, aquele período foi prodigioso em mestres luminares e preeminentes com os quais convivi e aprendi, não apenas aqueles que foram professores no meu curso, mas com outros das mais diversas áreas do conhecimento e com os quais tive a feliz oportunidade de abeberar-me em seus conhecimentos, recebendo deles conselhos valiosos e orientações de leituras.

É claro que sempre aprendi com toda esta gama de pessoas com as quais convivi ao longo dos anos e tive a felicidade de receber delas parte de seus conhecimentos, porém nada se compara com a dádiva que recebi de quem primeiro me ensinou a identificar os códigos da comunicação verbal e escrita, possibilitando que, a partir daí, eu passasse a ser uma pessoa integrada à sociedade humana.

O ato de alfabetizar é sublime e incomparável. É o primeiro passo sem o qual os demais não existem. Já esqueci o nome de muito dos professores que tive ao longo da vida, todavia jamais me esquecerei do nome da Professora Elcy que me deu o descortino da vida e a possibilidade de me conhecer e ainda mais do que isto: aprender a viver para a vida.

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